Na sexta-feira, 03/05, os atuais gestores do banco do povo gaúcho, talvez cientes de que quem não se comunica se trumbica, como dizia Abelardo Barbosa, o Chacrinha, soltou um BGX defendo suas ideias de Plano de Carreira. De fato, a comunicação, nestes tempos de informação online e instantânea, tornou-se fundamental. Porém, é preciso ficar afiado como navalha de barbeiro caprichoso. Caso contrário, acaba-se levando gato por lebre. Por isso, a diretoria do SindBancários entende ser uma obrigação de contestar ponto a ponto os argumentos da direção do Banrisul. Confira abaixo.

Diz o Banco: Há anos os empregados do Banrisul anseiam por um Plano de Carreira com perspectivas profissionais atrativas e que seja, acima de tudo, transparente e justo nos seus critérios de avaliação. Entendemos que é necessário enfrentar este desafio.

SindBancários: Nenhum trabalhador do Banrisul haverá de discordar do que está escrito acima. Porém, é necessário ficar atento, já que os padrões mais elementares do jornalismo são comumente violados e, assim, nas entrelinhas, a história pode ser distorcida para favorecer apenas um lado. Neste caso, o do banqueiro, a versão do patrão. Nesta diagramação, é bom deixar bem claro: o debate é entre nós e eles. Por isso, é preciso ficar mais ligado que rádio de preso, no dizer dos gaúchos. Portanto, vamos aos fatos. O processo de elaboração de um Plano de Carreira foi uma conquista da greve de 2010, quando, no Acordo Coletivo de Trabalho, incluímos uma cláusula que formou a Comissão Paritária. Também podemos considerar uma vitória da luta dos bancários na greve de 2012, a garantia do dia 31 de março como prazo para a direção apresentar uma proposta. Nos debates, desenvolvemos um conjunto de proposta com o firme propósito de avançar, através do diálogo, para construir um projeto de Plano de Carreira que garantisse a valorização do corpo funcional. Em palavras claras, os trabalhadores do banco cumpriram com a sua parte. Em maio do ano passado, depois de uma assembleia consagradora, precedida de amplos debates na base, entregamos ao banco a nossa proposta. E o que fizeram os atuais gestores do banco? Mais grosso que rolha pra tapar poço, o corpo diretivo da maior instituição financeira do povo gaúcho simplesmente não contemplou os anseios dos trabalhadores.

Diz o banco: Cumpre registrar que a execução desta tarefa deve considerar também o enfrentamento de questões internas como as dificuldades da Fundação Banrisul de Seguridade Social e de questões externas como a redução do spread bancário no sistema financeiro nacional.

SindBancários: O funcionalismo nunca se eximiu de buscar soluções para os problemas da empresa. Não está sendo diferente com os problemas da Fundação. Reafirmam que foi por graças ao trabalho abnegado de todos que os resultados positivos apareceram. Mobilizamos, por exemplo, a sociedade gaúcha para garantir o Banrisul público e estatal. Por força desta ação coletiva liderada pelos funcionários uma PEC foi aprovada e enterrou as tentativas de privatização. Ainda recentemente, o Dieese avaliou o atual cenário para o sistema financeiro no Brasil, levando em conta três fatores: as quedas nas taxas de juros lideradas pelas instituições federais (Caixa e BB) a partir de abril de 2012, iniciativa do governo federal para baixar o spread bancário; o processo de redução gradual da taxa básica de juros, que afetam receitas importantes para os bancos como títulos públicos e depósitos compulsórios, corrigidos pela Selic; e as tarifas bancárias, também foram alvo do governo ao determinar que novamente as instituições financeiras públicas promovessem redução. Diante desse novo contexto, o Dieese conclui que os bancos poderiam optar por dois caminhos. Um deles, praticado pela Caixa Federal, apostava na ampliação do crédito como forma de recuperar a rentabilidade. O segundo caminho, apontado por executivos do Itaú e Santander, preconizava a necessidade de melhorar a eficiência. Isso passava pela redução do número de empregados – de fato Itaú e Santander vêm promovendo cortes de postos de trabalho -, e por outras medidas que apostavam menos na elevação das carteiras de crédito e mais na melhoria dos índices de eficiência, com destaque para o desenvolvimento de novas tecnologias que reduziriam custos e permitiriam a otimização na oferta de produtos bancários. O exemplo do banco público federal que apostou na ampliação do crédito e obteve a lucratividade.  O caminho para enfrentar o contexto atual, manter e fortalecer a instituição é fundamental ter um quadro funcional motivado. A proposta que eles apresentaram “não valoriza a carreira funcional, se preocupa com a redução de custos. Um plano, cuja lógica está baseada nos velhos conceitos utilizados pela visão puramente mercadológica, onde as metas e o lucro estão acima de tudo. A progressão na carreira, a valorização profissional e o compromisso social… que vão todos pras cucuias.

Diz o Banco: A proposta de Plano de Carreira apresentada procura ser racional e transparente, buscando valorizar a qualidade do trabalho coletivo e individual, sem causar perdas salariais a ninguém. Objetiva também eliminar distorções nefastas à saúde do banco como, por exemplo, o crescente passivo trabalhista.

SindBancários: Os trabalhadores já deixaram claro que a proposta do Banco é mais complicado que receita de creme Assis Brasil e torna a carreira profissional mais comprida que esperança do povo pobre e excluído. Não é a toa que estão até agora buscando esclarecer aquilo que não faz sentido. A questão do enquadramento no novo plano, por exemplo, consolida distorções acumuladas pelo plano atual ao eliminar várias letras. Enquadrar, tomando como base o salário e não o tempo de serviço vai nivelar por baixo os trabalhadores, não fazendo justiça para com os colegas mais experientes. Na verdade, com este plano esfarrapado que nem poncho de gaudério, os atuais gestores irão aprofundar ainda mais o passivo trabalhista.

Diz o Banco: Estamos convictos que o novo Plano de Carreira precisará combinar duas qualidades: ser capaz de motivar nossa força de trabalho em relação a seu futuro e ser compatível com nossa estrutura de receitas e despesas.

SindBancários: Neste ponto, a proposta só leva em conta o segundo objetivo, a redução de custos. Portanto, não agrega a motivação do funcionalismo.

Diz o Banco: Ao mesmo tempo (em) que dialogamos com as entidades representativas dos empregados, estamos fazendo um debate direto com todos que se dispõe a esclarecer, debater, criticar, propor mudanças e alternativas.

SindBancários: Até agora é pura retórica. Discurso mais conhecido que a reza do padre-nosso. O professor e analista político, Noam Chomsky, diz que “parte do segredo do sistema de dominação e controle é separar as pessoas umas das outras, de tal forma que essa união não aconteça”. De modo que estão montando este operativo de propaganda, acreditando que o trabalhador vai ficar de boca aberta que nem burro que comeu urtiga. É a prova mais cabal que desconhecem totalmente a capacidade de luta dos banrisulenses. Por outras palavras, estão cutucando onça com vara curta!

Diz o Banco: Iniciamos isto na DG, já na semana passada: um debate franco, transparente e necessário para todos. Recebemos um conjunto importante de reflexões críticas sobre o que estávamos propondo e já evoluímos na proposta. Na última segunda-feira, dia 29 anunciamos: o ADI e as comissões não serão congeladas. A abertura de estudo para contemplar a possibilidade de migração opcional da carga horária de oito para seis horas do comissionado. O processo de seleção para os cargos de coordenador 1 e 2 da DG será exclusivo nas coordenações novas, a serem criadas.

SindBancários: Os banrisulenses, contrariados como gato a cabresto, já mostraram que não vão aceitar o projeto do banco. Na terça-feira, 30/4, vestiram o preto e fizeram uma grande manifestação na rua Caldas Junior, paralisando a DG. Um dia antes do nosso ato, um BGX anunciou os recuos. Os diretores prometeram manter o ADI e descongelar o comissionamento. Mesmo assim, não conseguiram esvaziar a nossa mobilização, ao contrário, os protestos serão intensificados.

Diz o Banco: Essa é a ideia que carregamos de democracia: um processo complexo, onde é necessário se expor e o que é mais importante, ter disposição e capacidade de produzir alternativas e construir novas possibilidades. Estamos fazendo isso com toda a responsabilidade que o tema exige.

SindBancários: A maioria dos trabalhadores do banco e seus representantes não são partidários da política do tudo ou nada. Ao contrário, eles enxergam saídas, vislumbram negociações que podem pavimentar o caminho da construção de um Plano de Carreira, que projete um futuro sem discriminações, injustiças, perdas e dores para o resto da vida dos trabalhadores. Mas, para isso, será necessário um cenário de confiança. Não da forma como o banco vem conduzindo o processo, onde não mantém nem o que já havia sinalizado como, por exemplo, a proposta de progressão por tempo de três em três anos.

Diz o Banco: (…) fomos surpreendidos com uma proposta de paralisação para o próximo dia 7 e também para 15 de maio. Entendemos que isto é desproporcional e não se relaciona com o clima de construção serena e madura que continuamos apostando. Chamamos todos a refletirem sobre os reflexos para o banco desta eventual paralisação, isolada, no tempo e no espaço, do restante do sistema bancário nacional.

SindBancários: O sentimento do banrisulense é de revolta, indignação. Repetimos, os trabalhadores do banco dos gaúchos cumpriram com a sua parte. Em maio do ano passado, depois de uma assembleia consagradora, após amplos debates com os trabalhadores, entregamos para o banco a nossa proposta. Eles simplesmente desprezaram as ideias daqueles que, de fato, movem a instituição. Com isso, plantaram discórdia, geraram frustrações e tudo parece indicar que estão buscando o confronto, já que insistem em manter propostas que se assemelham a tosa de porco: muito grito e pouca lã.

Diz o Banco: Sabemos que construir um novo Plano de Carreira para o Banrisul num ambiente de reestruturação do sistema bancário nacional não é tarefa fácil, por isso não estamos vendendo facilidades. Não iremos comprometer o futuro do Banco com soluções fáceis. Esta construção, com a qualidade que todos almejamos, demandará muito trabalho, tempo e capacidade de negociação. Demandará bom senso e serenidade de todos os envolvidos.

SindBancários: Nossa expectativa era de seguir trabalhando em cima do que estava sendo negociado. É possível avançar? Acreditamos que sim. Queremos e precisamos de um Plano de Carreira decente, que valorize o trabalhador e projete um futuro digno para o quadro funcional. Para isso, vamos intensificar a nossa mobilização em busca de melhorias. À hora, portanto, é de unidade, de somar esforços, organizar o movimento, responder coletivamente e sempre de peito aberto e sem medo de pelear pelas nossas reivindicações. Por fim, o título do BGX do banco é “Serenidade na construção coletiva”. Da parte dos trabalhadores, reafirmamos que seguiremos juntos na luta por um Plano de Carreira justo. Sempre tranquilos e serenos que nem baile de moreno.

Diretoria
SindBancários

 

 

 


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