Abrir o cofre ou colocar em risco a vida de familiares. Pelo menos quatro gerentes de banco gaúchos estiveram diante desse dilema este ano. O último alvo foi a subgerente do Sicredi de Gentil, no norte do Rio Grande do Sul. Grávida de dois meses, ela viu o marido e o filho de seis anos serem ameaçados antes de ser obrigada a abrir a agência, na madrugada de quinta-feira, 16 de maio.


O Sicredi foi o segundo banco assaltado na cidade de 1,6 mil habitantes em uma semana. Quando os relatos da violência chegaram aos ouvidos dos moradores, o medo dominou o município.


Três criminosos invadiram a casa da subgerente por volta das 20h de quarta-feira (15). Ela relatou aos policiais que um homem apontou uma espingarda para a janela, e a obrigou a abrir a porta. O trio entrou na residência e rendeu a família, dizendo que os monitoravam há 15 dias.

Enquanto mantinham os três reféns, os bandidos jantaram e assistiram novela. Às 2h, amarraram as mãos do marido e da criança e os trancaram em um dos quartos, dizendo a eles que estavam sendo vigiados e, se tentassem sair do aposento, seriam mortos.

Deixaram a residência levando a gerente. Eles foram à agência bancária, com o carro da família, um Voyage. Como a funcionária não tinha acesso ao cofre, obrigaram-na a abrir os dois caixas eletrônicos e a entregar cerca de R$ 30 mil. Ela relatou à BM que os homens se comunicavam com outras pessoas pelo celular, contando a ação e perguntando se estava tudo calmo.

Após o roubo, as criminosos seguiram com a grávida até a saída da cidade e a libertaram. A mulher retornou caminhando, segundo a BM. Os assaltantes também levaram notebook, celulares, joias e dinheiro da família. O veículo foi abandonado e localizado no final da manhã.

O titular da Delegacia de Roubos da Capital, delegado Joel Wagner, afirma que ainda não há suspeitos, mas que a relação entre os últimos ataques a banco na região será investigada:

– Não descartamos a hipótese de que seja a mesma quadrilha, mas ainda não temos informações.

A subgerente e o marido foram ouvidos na noite de ontem na Delegacia de Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas (Defrec) de Passo Fundo.

Crimes em sequência aterrorizam moradores

Há uma semana, outra agência bancária foi assaltada em Gentil. Os bandidos chegaram à cooperativa de crédito Crehnor por volta das 8h. Armados, obrigaram o gerente a abrir o cofre e a entregar uma quantia não revelada.

– Era uma cidade tranquila, mas agora com esses assaltos ficamos com medo de trabalhar, não sabemos se vão voltar – relata a funcionária de um banco, que preferiu não ser identificada.

A estudante Aline Miola Conte, 23 anos, vizinha da subgerente do Sicredi, relata que ouviu barulhos estranhos na noite de ontem, mas não imaginava que a casa ao lado estava sendo invadida.

– Estamos com medo – resume.

Há cerca de 10 dias, em Constantina, também no Norte, o gerente do Banrisul e a mulher dele foram feitos reféns em casa. Os bandidos levaram a mulher para outro município e só a liberaram depois que o marido abriu o cofre da agência onde trabalha e entregou o dinheiro. Na sequência, o grupo atacaram agência em Sarandi.

Ataques a agências cresceram 49% no RS

O número de ataques a bancos no Estado saltou de 108 em 2011 para 161 no último ano, um aumento de 49%, conforme um levantamento do Sindicato dos Bancários. As estatísticas compreendem assaltos, sequestros, furtos e arrombamentos.

Conforme Dário Delavy, coordenador de Administração e Finanças do Sindicato dos Bancários de Passo Fundo e Região, além da falta de policiamento, o aumento nas ocorrências também seria reflexo da suposta ausência de uma política de segurança mais rígida dos bancos.

– Deixar um gerente com a chave da agência é expor ele e a família à ação dos assaltantes. Uma equipe de segurança deveria abrir e fechar os estabelecimentos – pondera o representante do sindicado.

Para Delavy, além dos bancários, as últimas ocorrências no Norte também deixaram os moradores aterrorizados.

VIROU ROTINA

De agosto até agora, quatro funcionários foram rendidos.

Constantina

– Quatro homens renderam o gerente do Banrisul e a mulher dele, no início de maio, e os mantiveram reféns até o amanhecer. Depois, dois deles levaram a mulher para Boa Vista das Missões, enquanto obrigaram o gerente a abrir o cofre da agência e entregar o dinheiro.

Novo Hamburgo

– Em abril, bandidos sequestraram o tesoureiro da Caixa Econômica Federal, a mulher e o filho e os mantiveram reféns. Enquanto o homem foi obrigado a ir ao local de trabalho, os parentes foram levados no carro da família para um cativeiro em Sapiranga, e liberados horas depois.

Porto Alegre

– Em fevereiro deste ano, pelo menos quatro homens armados sequestraram a gerente da agência Partenon do Banrisul e o marido quando ela saía do expediente. O casal passou a noite em cativeiro e, na manhã seguinte, foi levado ao banco, onde a gerente teve de abrir o cofre e entregar o dinheiro aos criminosos.

Salvador do Sul

– Em agosto de 2012, o gerente do Sicredi foi sequestrado com a mulher, o filho e a empregada e obrigado a fazer um saque. Na véspera do assalto, os bandidos renderam a família, quando a empregada chegava para trabalhar na casa. Os reféns foram libertados em Montenegro.

Fonte: Fetrafi /ZH

 

 


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