O jornalista e escritor Juremir Machado da Silva foi o primeiro painelista da 16ª Conferência Estadual dos Bancários, que iniciou na manhã deste sábado (31) no hotel Embaixador, em Porto Alegre. Ele prendeu a atenção da plateia contando casos curiosos sobre o envolvimento da imprensa no golpe militar de 1964, que ele chama de "golpe midiático-civil-militar". Segundo o painelista, a imprensa preparou todas as condições e fundamentação para o golpe, afirmando que não vê muita diferença no comportamento da mídia dos dias de hoje. "Na época a imprensa dizia que a corrupção era generalizada e atacava o presidente Jango por supostos defeitos pessoais para desqualificá-lo, como bêbado, semianalfabeto e manco. Tudo era culpa da perna esquerda defeituosa do presidente".

Juremir voltou na história até agosto de 1954 para relatar detalhes do famoso atentado da Rua Tonelero, no Rio de Janeiro, contra o jornalista Carlos Lacerda e que culminou com o suicídio de Getúlio Vargas. Ele qualificou a operação como esdrúxula por suas inúmeras trapalhadas. "O contratado para assassinar Lacerda era um pistoleiro amador, inexperiente, ruim de pontaria e daltônico. Então não podia dar certo, foi uma sequência de trapalhadas digna de romance ficcional”.

Sobre a participação da mídia, o jornalista considera que a imprensa na época era "golpista, conservadora, reacionária e contra qualquer reforma". Autor de um livro sobre o tema (1964, Golpe midiático-civil-militar, ed. Sulina), ele comprova através dos editoriais da época, que todos foram a favor do golpe. "Uns se arrependeram logo em seguida e outros levaram 40 anos para se arrepender e alguns ainda não se arrependeram".

Origens do golpe

Juremir aponta o papel decisivo dos EUA, que financiaram o golpe através doque ele chama de "o primeiro mensalão do país". Em 1962 deputados em oposição ao Governo Jango foram financiados pelos norte-americanos. "O relator da CPI que investigou o esquema foi assassinado porque revelou esse financiamento. É a prova de que a organização do golpe começou em naquele ano".

O painelista lembrou que muitos intelectuais e jornalistas consagrados e respeitados também apoiaram o golpe, dando declarações, enaltecendo o governo dos militares. "Vários desses intelectuais atuaram apaixonadamente em defesa do golpe. Muitos chafurdaram na lama do golpe". Ele citou vários editoriais da época onde os jornais demonstravam todo seu entusiasmo com a ditadura, como o Globo, que dizia: "vive a nação dias gloriosos para salvar a democracia".
O jornalista e escritor encerrou a palestra com os números de torturados, cassados, perseguidos durante a ditadura e salientou que aquele período foi recheado de corrupção de toda ordem.

Fonte: Jairo Sangruiné Jr. / Imprensa 16ª Conferência Estadual
 


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