Bola podre ou quadrada, tanto faz, o significado é o mesmo. É a bola mal passada, saída de pés inábeis que conduzem quadris enrijecidos. É a antítese de um dos orgulhos nacionais.

A vida de um perna-de-pau não é simples. Ou se é dono de uma bola, ou sempre se fica por último, quase não tem lugar no time. Se criança, isso rende complexo de inferioridade. Nenhum perna-de-pau consegue ser popular na escola.

Pior ainda é ser ruim de bola e tentar esconder isso. Para estes, a vida é particularmente cruel, pois a máscara costuma cair em público, no calor da peleja, debaixo dos três paus.

Tal é o caso de nossa chamada imprensa tradicional. Ao longo de um ano inteiro, salvo poucas exceções, fez previsões catastróficas sobre a Copa do Mundo. A julgar pelo noticiário, tudo seria um desastre e o País passaria por um vexame internacional.

A mídia perna-de-pau errou feio. Não houve caos nos aeroportos, a grama não está se desfazendo sob as chuteiras, as torcidas não estão se digladiando e repórteres do mundo inteiro estão saudando nossa Copa como uma das melhores de todos os tempos.

A realidade contrariou as versões.

Ninguém espera infalibilidade total, nem mesmo dos aviões. Mas não precisava exagerar. Bastava ter saído das redações, dar uma circulada pelas ruas, checar o mundo real, enfim, para poder dosar melhor a quantidade de mau humor e não achar que a vida se renderia a opinião de alguns notáveis.

O fenômeno da opinião publicada que não encontra eco na realidade já vinha se manifestando em outras ocasiões. Ora com sorrisos de desprezo, ora com voz tonitruante, previu-se inflação incontrolável, pediu-se o encarceramento de crianças, profetizou-se o fim dos tempos, o apagão elétrico, o apocalipse que ceifaria alguns mortais e pouparia os iluminados jornalistas.

Vaidade misturada com inegável torcida contra o próprio País, e não falamos aqui apenas de futebol, mas de futuro, projeto de Nação.

Só que, desta feita, o descompasso entre opinião e fatos ficou evidente demais.

Faço essa análise com pesar. Não é bom para um País ter um jornalismo de baixa qualidade. É preciso uma mudança profunda. E isso passa necessariamente pela desconcentração das propriedades dos meios de comunicação, para dar acesso a outras vozes.

Jornalismo é um serviço de utilidade pública, e assim deveria ser encarado. Do modo como está, paira acima de tudo. O jornalismo brasileiro parece poder errar à vontade, não há constrangimento nem pedido de desculpas. Como a Fifa,tem suas próprias regras. Nenhum grupo deveria ter esse privilégio numa democracia.

Espero que este momento fique marcado de forma indelével na memória e desperte as consciências, elevando as exigências dos leitores e telespectadores.

Continuaremos defendendo a necessidade de democratizar a mídia até que esse debate, tão essencial para a Nação, se popularize e nos leve a um novo patamar de relacionamento com essa indústria que anda tão bola murcha.

Queremos jogar bonito, torcendo para que a Copa 2014 continue sendo um sucesso e – por que não – comemorar o título de nossa Seleção.


Rosane Bertotti é secretária nacional de Comunicação da CUT

Fonte: CUT
 


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