Os cartões foram os principais responsáveis por alavancar a receita dos três maiores bancos privados do País no primeiro semestre deste ano. Segundo levantamento feito pelo DCI, com base nos balanços divulgados pelo Bradesco, Itaú e Santander, a receita proveniente das operações com cartões passou de R$ 9,18 bilhões, no primeiro semestre de 2013, para R$ 10,75 bilhões, no primeiro semestre deste ano – avanço de 17,06%. O crescimento superou outras áreas apuradas pelo jornal, como administração de fundos, serviços de conta corrente e operações de crédito.

A instituição bancária que apresentou o maior aumento na receita com cartões foi o Itaú, cuja arrecadação subiu 23,97% nos últimos 12 meses, passando de R$ 4,26 bilhões para R$ 5,28 bilhões. O Bradesco aparece em seguida, com crescimento de 11,60% no período – subindo de R$ 4,26 bilhões para R$ 5,28 bilhões – e o Santander, na terceira colocação, apresentou aumento de 9,86%, com receita de R$ 1,5 bilhão, em 2013, e R$ 1,64 bilhão, neste ano.

Somadas as arrecadações dos três bancos, o crescimento de 17,06% dos cartões superou a receita proveniente dos serviços de administração de fundos, que teve alta de 7,00%, conta corrente (12,47%), operações de crédito (9,17%) e cobranças (10,86%).

Para o professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais de Minas (Ibmec-MG), Marcos Camargo, com a redução dos spreads bancários de alguns produtos financeiros a partir de 2012, os bancos viram nos altos juros dos cartões uma alternativa para manter o padrão de receita que tinham antes. "Existia uma classe emergente que não estava no mercado financeiro e, observando isso, os bancos viram uma oportunidade de aumentar a base de clientes correntistas. Agora boa parte dela está no mercado."

De acordo com o especialista, a baixa "educação financeira" das pessoas foi outro fator que contribuiu para o crescimento da receita com os cartões. "As pessoas ainda não têm noção da alta taxa que é cobrada nos cartões de crédito. Somente hoje é que elas estão começando a perceber a dinâmica e os custos do sistema financeiro", observou.

O professor do curso de pós-graduação de planejamento tributário da Universidade Presbiteriana Mackenzie e sócio LMF Consultores Empresariais, Edmilson Lins Machado, também avaliou que o aumento do consumo – e a consequente entrada dos consumidores no sistema financeiro – foi o principal responsável pelo crescimento aumento da receita. "Os bancos começaram a facilitar o crédito para as pessoas. O banco tinha vários pacotes para oferecer e o consumidor tinha uma folga financeira para tomar esse crédito".

Machado estima, contudo, que, com a recessão econômica e o endividamento dos consumidores (intensificado em 2013), o próximo ano pode apresentar um quadro preocupante de inadimplência. "Quando houve o crescimento econômico, havia um alto índice de endividamento, mas o consumidor conseguia lidar com isso. Hoje, a indústria não está produzindo tanto quanto produzia e pode haver demissões em alguns setores, levando o consumidor a não honrar mais com suas dívidas", avaliou. "O ano de 2015 será um período de ajustes. Recessão financeira com inadimplência é um cenário que nós ainda não enfrentamos", completou.

O especialista avaliou que, se esse cenário de baixo crescimento econômico e altos índices de inadimplência se concretizar, a receita dos bancos com cartões deve diminuir, mas não deve chegar a níveis muito baixos. "Deve manter o nível de 2011 e 2012".

Para Camargo, se os bancos quiserem manter a receita com os cartões, eles precisarão investir em várias frentes, como gestão de riscos – formação ou capacitação de profissionais especificamente para o setor -, fidelidade com o cliente, agregação de produtos ao cartão – seguros e títulos de capitalização, por exemplo – e aumento da base de clientes.

Fonte: DCI – São Paulo
 


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