Na última sexta-feira, 08, o presidente do Banco Brasil, Paulo Cafarelli e o Vice-Presidente de Varejo e Gestão de Pessoas, Paulo Ricci, receberam uma comissão de mulheres para tratar do tema da discriminação de gênero no BB. A reunião foi solicitada pela representante dos funcionários no Conselho de Administração, Juliana Donato.

Além da própria Juliana Donato, compuseram a comissão as colegas Cristiana Garbinatto, diretora da Mulher Trabalhadora da Federação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro do Rio Grande do Sul (Fetrafi-RS), Leodete Sandra Cavalcanti, delegada sindical, membro da oposição bancaria de Pernambuco e recém-eleita para o Conselho Fiscal da CASSI, Patrícia Vale, delegada sindical no Complexo do Andaraí/RJ e membro da oposição bancária do Rio de Janeiro e, representando a comunidade virtual (disponível na Intranet do BB) "Bancárias no Poder”, as colegas Ana Emilia Monteiro de Barros (Mila), de Brasília e Dulcejane Vaz, de São Paulo.

Em nome da comunidade "Bancárias no Poder”, representada na reunião pelas colegas Ana Emilia (Mila), de Brasília e Dulcejane Vaz, de São Paulo, foi entregue ao presidente Cafarelli uma carta, na qual são apresentadas várias dificuldades enfrentadas pelas mulheres e algumas propostas para começar a enfrentá-las.

O presidente Cafarelli se comprometeu a acompanhar pessoalmente a continuidade deste debate e a adoção de medidas para combater a discriminação às mulheres no BB. O vice-presidente Paulo Ricci, igualmente, comprometeu-se a examinar cuidadosamente cada um dos problemas e propostas de soluções apresentadas na reunião. A comissão se reunirá com o presidente novamente daqui a 3 meses.

Veja quais foram os principais temas debatidos pela comissão de mulheres com os representantes do Banco.

A discriminação de gênero no BB

Atualmente, cerca de 42% do corpo funcional do BB é composto de mulheres. No entanto, este percentual não se reflete nos cargos de chefia. Quanto mais alto se sobe na pirâmide de cargos do BB, menos mulheres encontramos. São poucas no cargo de gerente geral e somente uma no cargo de diretora, para ficar em alguns exemplos.

Um dos motivos relatados pelas mulheres para que sejam preteridas nas entrevistas é a questão da maternidade. Diversas colegas relatam que chegaram a ser diretamente questionadas, em entrevistas, se são ou pretendem ser mães. A única forma de combater esse problema é eliminando-se a subjetividade nos processos seletivos, ou seja, realizando os comissionamentos a partir de concursos internos com provas objetivas.

A punição à maternidade também se revela na suspensão, durante a licença maternidade, do vale refeição, que, para as escriturarias significa cerca de 1/4 do salário. As mulheres mães sofrem também por causa do baixíssimo valor do auxílio creche que recebem (atualmente, R$ 394,70 por mês). Ter que arcar sozinhas com o cuidado dos filhos nos primeiros meses de vida é também uma dificuldade para as mães. Atualmente, no BB, a licença paternidade é de somente 10 dias úteis. Hoje, a própria legislação já prevê 20 dias. O BB comprometeu-se a aderir à nova legislação, mas acreditamos que precisamos avançar ainda mais.

O assédio sexual também é um problema muito grave. Grande parte das bancárias já foi assediada dentro do local de trabalho. Com as estagiárias, essa relação é ainda pior. No entanto, as estatísticas são baixíssimas, pois as mulheres raramente denunciam, na maioria das vezes por medo, vergonha ou culpa. "Por isso, sugerimos a criação de um canal junto à ouvidoria interna, composto somente por mulheres, para acolhimento e tratamento de denúncias de assedio sexual e discriminação de gênero em geral", ressaltam as funcionárias do banco.

As trabalhadoras também fizeram questão de criticar o problema das recorrentes reestruturações no BB. Na avaliação das trabalhadoras, elas atingem de forma mais dramática as mulheres. Quando as reestruturações ocorrem, com fechamento de vagas em diversas praças, são "oferecidas” aos funcionários afetados vagas em outras localidades. Para as mulheres, é muito mais difícil aceitar estas vagas, pois elas teriam, para isso, duas hipóteses igualmente difíceis: deixar suas famílias ou mudar com a família, sem qualquer apoio para estabelecerem-se em uma nova cidade, geralmente com custo de vida maior.

Mulheres organizadas contra o machismo: faça parte desta luta

A discriminação de gênero é um problema social no Brasil e no mundo. As mulheres, em pleno século XXI, ainda são vítimas de violência domestica, recebem salários menores do que os homens, convivem diariamente com o assedio sexual, são as maiores vítimas de estupro.

Segundo a ONU, sete em cada 10 mulheres do mundo já foram ou serão violentadas em algum momento da vida. O Brasil ocupa a sétima posição no ranking de países onde acontecem mais assassinatos de mulheres (Pesquisa Tolerância social à violência contra as mulheres – Ipea, março-abril/2014). E, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do IBGE, em 2014, as mulheres receberam em média 74,5% da renda dos homens.

"Felizmente, há uma verdadeira ascensão feminista no país, com as mulheres indo às ruas contra o machismo e criando espaços de luta e resistência. Foi o caso, por exemplo, do Coletivo de Mulheres do BB, formado durante o último Congresso dos Funcionários do banco. A organização das mulheres permitiu que fosse aprovada a paridade entre homens e mulheres nas delegações ao próximo Congresso dos Funcionários", destacam as funcionárias do banco.

"É também o caso da comunidade virtual Bancárias no Poder. A comunidade foi criada na rede interna do Banco do Brasil e já reúne mais de mil mulheres, interessadas em discutir diversos assuntos, como, por exemplo, a ascensão profissional dentro da empresa. Na próxima campanha salarial, queremos que os temas relativos às mulheres tenham destaque. Há muitos anos, as reivindicações das mulheres constam na minuta entregue aos bancos, mas não são tratadas com prioridade e nunca são atendidas. Queremos aproveitar este momento de mobilização da categoria para exigir o pagamento do VR na licença maternidade, o reajuste do auxilio creche, a ampliação da licença paternidade", argumentam.

As bancárias salientam que as mulheres precisam de organização. "Convidamos cada colega do BB a participar desta luta. Junte-se à comunidade virtual, participe das assembleias e mobilizações. Vamos juntas conquistar mais direitos para as mulheres trabalhadoras".

Fonte: Relatório das participantes da reunião com edição da Fetrafi-RS

 

 


Compartilhe este conteúdo: