Cerca de 15 mil pessoas participaram, no início da noite desta sexta-feira (11), em Porto Alegre, de um novo ato de protesto contra as políticas do governo Temer, em especial a PEC 55 (241 na Câmara dos Deputados) que congela os investimentos em áreas essenciais como saúde, educação e infraestrutura por até 20 anos. Provavelmente, foi o maior ato de rua em Porto Alegre em 2016, desde os primeiros atos contra o impeachment e o golpe no primeiro semestre.

Antes das 18 horas, horário marcado o início da concentração, a Esquina Democrática já estava tomada por manifestantes, com uma grande presença de estudantes que estão participando das ocupações, professores e funcionários da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e sindicatos de trabalhadores do setor público e privado. A presença majoritária, assim como já aconteceu em atos anteriores, foi da juventude, com uma grande presença de estudantes universitários que estão participando de ocupações na UFRGS, em diversos campi do Instituto Federal e também na PUC.

Na concentração para a caminhada realizada pelo centro de Porto Alegre, Cedenir de Oliveira, da coordenação estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), destacou o papel de liderança que a juventude vem assumindo depois do processo que culminou no afastamento da presidenta Dilma Rousseff.

 

 “Nós estamos vivendo no Brasil um novo momento da luta social. Nós dizíamos que o afastamento de Dilma traria não apenas uma derrota da democracia, mas também uma série de retrocessos com as medidas que viriam posteriormente. Estamos colhendo os frutos amargos desse processo agora, com um ataque aos direitos dos trabalhadores e às conquistas obtidas nos últimos anos. No dia de hoje demos mais um importante passo para o fortalecimento de um espaço de resistência. Neste momento, sem dúvida nenhuma, os estudantes são a ponta de lança dessa resistência. Isso nos anima porque a juventude do nosso país está se posicionando em defesa da democracia e dos direitos”.

O dirigente do MST no Rio Grande do Sul também comentou a determinação do secretário estadual de Segurança Pública, Cezar Schirmer, para que a Brigada Militar tivesse uma “atuação mais firme” nos protestos. “Esse é o modus operandi clássico dos governos que começam a aplicar políticas neoliberais que atingem a classe trabalhadora. Na medida em que a população reage aos efeitos dessas políticas, esses governos endurecem a ação policial e a criminalização dos movimentos. Esse é um protocolo que a gente já viu acontecer em outros momentos e que começa a se posicionar com força no país e, em especial, aqui no Rio Grande do Sul. No caso de um governo que não consegue honrar a folha de pagamento de seus servidores e que não tem nenhum tipo de investimento, só resta a ele colocar a Brigada Militar em cima das manifestações”, assinalou.

Ainda durante a concentração para a saída da caminhada, o papel protagonista da juventude no processo de resistência às políticas do governo Temer foi objeto de várias conversas. Questionado por um professor universitário sobre o que fazer diante da dureza da conjuntura política atual, Mauri Cruz, da Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais (Abong), respondeu de bate-pronto: “na dúvida, siga a juventude”. E foi o que aconteceu após às 19 horas, quando a caminhada que reuniu milhares de pessoas saiu da Esquina Democrática tomando a avenida Júlio de Castilhos em direção à Rodoviária e depois ao túnel da Conceição. Na linha de frente da marcha estavam estudantes secundaristas e universitários independentes ou ligados a alguma organização que caminharam unidos pela oposição à chamada PEC da Morte, que congela investimentos em áreas essenciais por até 20 anos.

Como já aconteceu em outras manifestações, no início a Brigada Militar realizou um acompanhamento discreto do ato, com uma viatura e alguns homens caminhando à frente da caminhada e informando por rádio o trajeto e o andamento da mesma. Na entrada para o túnel da Conceição, a manifestação passou a ser acompanhada por um helicóptero da Brigada Militar que passou a acompanhar ostensivamente a manifestação até o seu final. A passagem pelo túnel deu a dimensão do tamanho inédito da manifestação. Após a linha de frente da caminhada entrar pelo túnel passaram-se mais de quinze minutos para que o final da marcha dobrasse a avenida Júlio de Castilhos. Todo esse trajeto aconteceu sem qualquer tipo de incidente.

Na saída do túnel, os manifestantes ficaram em silêncio para não perturbar os pacientes e profissionais do complexo hospitalar da Santa Casa situado ao lado. Na entrada do Campus Central da UFRGS, foram recebidos com um vídeo projetado no prédio da Faculdade da Arquitetura com os dizeres “Ocupa Tudo”. A caminhada entrou na Perimetral e se dirigiu ao Largo Zumbi dos Palmares. No caminho, um container de lixo foi virado, mas ficou apenas alguns segundos tombado, sendo rapidamente colocado de volta no lugar por cinco jovens manifestantes.

Ao se aproximar do Zumbi dos Palmares, um impasse pairava no ar: seguir dali para onde? A Brigada Militar havia mobilizado um pequeno exército nas proximidades do prédio da RBS, na esquina da avenida Ipiranga com a Érico Veríssimo, prevendo que os manifestantes se dirigiriam para lá. Mas não foi o que aconteceu. A marcha ingressou no largo e terminou ali, para protesto de alguns manifestantes que queriam continuar. Mas prevaleceu a opção por não seguir em frente e evitar o confronto com a Brigada. Antes da dispersão, foi anunciado que um novo ato está programado para o dia 25 de novembro, alguns dias antes da data prevista para a votação da PEC 55 no Senado. “No dia 25 estaremos na rua de novo e o ato será ainda maior que o de hoje”, anunciou uma jovem manifestante falando com um megafone.

A manifestação, oficialmente, terminou ali, mas, como já ocorreu em outras ocasiões, apareceu o que um participante da caminhada chamou de “parceria público-privada” entre a Brigada Militar e grupos dispersos de manifestantes que se espalharam pela região. Na esquina da Perimetral com a Lima Silva, foram queimadas algumas caixas de papelão e uma moto da EPTC que estava parada no cruzamento foi derrubada no chão. A Brigada acionou então o que o secretário estadual da Segurança, Cezar Schirmer, chamou de “protocolo de dispersão”, lançando bombas de gás, balas de borracha e acionando a cavalaria por ruas da Cidade Baixa, com acompanhamento aéreo do helicóptero que acabou, paradoxalmente, participando de boa parte do protesto contra a PEC que congela, por até 20 anos, investimentos em áreas essenciais, inclusive a da segurança pública.

 

Fonte: Sul21/ Por Marco Weissheimer


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