Os cartões dominaram a carteira de crédito para consumo no primeiro semestre de 2014, segundo balanço divulgado ontem pela Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs). O levantamento mostra que os cartões de crédito, considerando os parcelamentos com e sem juros, foram responsáveis por 50,1% do volume de recursos liberado para financiamento de bens e serviços na primeira metade deste ano, com um montante R$ 170,3 bilhões.

O crédito consignado, que aparece na segunda colocação do balanço, teve uma participação bem menos expressiva: 23,5% do volume total de crédito para consumo foi proveniente deste tipo de empréstimo, o que representou R$ 79,9 bilhões no período. O financiamento de veículos, com montante R$ 44,4 bilhões (13,1%), aparece em seguida. Os demais tipos de crédito, como arrendamento mercantil, somaram R$ 45 bilhões (13,3%).

Paralelamente a esses dados, a Abecs divulgou uma pesquisa do Datafolha que mostra que 83% dos consumidores pagou integralmente a dívida do cartão. Do restante, 9% parcelou a fatura, 5% pagou o valor mínimo, 3% pagou outro valor e 1% não pagou.

Ainda de acordo com a associação, as pessoas que não quitaram ou parcelaram os débitos do cartão ficaram, em média, 18 dias no empréstimo rotativo – crédito emergencial aberto automaticamente pelo banco para o devedor, com juros médios de 280% ao ano. O balanço aponta ainda que a inadimplência das pessoas físicas com cartões caiu de junho de 2013 para o mesmo período deste ano, passando de 7,3% para 6,7%.

Para o diretor-presidente da Abecs, Marcelo Noronha, os resultados mostram que o cartão de crédito deixou de ser somente um meio de pagamento no Brasil, passando a ser também um meio de financiamento. "É importante lembrar que essa carteira é uma carteira bem mais curta [prazo] que a carteira de veículos, consignados e crédito imobiliário, mas está sendo responsável por fomentar o crédito ao consumo no País", comentou.

O diretor de economia da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel de Oliveira, afirmou que o crescimento do número de compras com cartão se deve ao aumento do risco para os lojistas na concessão de outros tipos de crédito. "Por conta do baixo crescimento do País, aumentou-se o risco. Antes os lojistas colocavam o cheque pré-datado como opção, mas com o crescimento da inadimplência, eles estão optando por cartão", analisou.

Segundo Oliveira, cada vez mais lojas estão aceitando cartões e estão concedendo cada vez mais prazo. "Com prazos a perder de vista, você facilita o consumo", observou.

Para o especialista, no entanto, o fato das pessoas permanecerem média de 18 dias no rotativo mostra que dificuldade dos consumidores em quitar as dívidas.

"As pessoas não são muito regradas. Elas compram muito por impulso e só depois se dão conta que não vão conseguir pagar", avaliou. O economista alertou ainda que o maior problema dos cartões são as altas taxas de juros. "A pessoa que não consegue pagar a fatura e precisa parcelar, ou entrar no rotativo, na verdade está financiando a dívida do cartão de crédito com outro tipo de crédito. O problema é que essa dívida não tem fim. As pessoas acabam não se dando conta dos juros que terão que pagar", finalizou.

O balanço da Abecs mostrou também que o montante total de recursos transacionado por meio de cartões (de débito e crédito) aumentou 16,3% do primeiro semestre de 2013 para os primeiros seis meses deste ano, passando de R$ 392 bilhões para R$ 455 bilhões. Houve ainda, nos meses de junho de 2013 e 2014, um crescimento de 96,9% no valor gasto com cartão por estrangeiro no Brasil, por conta da Copa.

Fonte: DCI – São Paulo
 


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