Escolhidos pela presidente Dilma Rousseff para liderar a cruzada da redução dos juros em 2012, os bancos públicos têm elevado as taxas cobradas de seus clientes em ritmo superior aos concorrentes privados. Como consequência, é cada vez mais curta a distância entre as taxas cobradas nos empréstimos do Banco do Brasil (BB) e da Caixa Econômica Federal e a banca privada.
Com os sucessivos aumentos da Selic, e sem sinal de novas capitalizações pelo Tesouro Nacional, o governo não teve como pressionar os bancos públicos a seguir caminho distinto dos privados – na semana passada, o Banco Central elevou, pela terceira vez consecutiva, os juros básicos da economia a 12,25% ao ano. Mas segue, no entanto, o entendimento de que as taxas cobradas por Caixa e BB não podem superar os juros praticados na concorrência.
A diferença entre as taxas dos bancos públicos e privados caiu, principalmente, nas linhas em que Caixa e BB mais reduziram as taxas em 2012, segundo levantamento do Estado. Um dos exemplos é o cheque especial. Em abril de 2012, antes da campanha pelos juros baixos, a Caixa cobrava 75% da taxa do Bradesco e o BB, 97%. Na última semana daquele ano, os juros da Caixa no cheque especial recuaram para menos de 40% do cobrado por Bradesco. No BB, caiu a 49%. Agora, na primeira semana de 2015, a Caixa estava cobrando 66% da taxa do Bradesco e o BB, 87%.
Freio
"A realidade se encarregou de colocar um freio na política de juros baixos. Só restou aos bancos públicos trilhar o mesmo caminho dos concorrentes. Se não fizessem isso, poderiam estar dando um tiro no pé", avalia Luis Miguel Santacreu, analista de bancos da Austin Ratings. Sem novas capitalizações e diante de um cenário de restrição de crédito, Caixa e BB precisam reforçar o lucro, avalia. A primeira coisa a fazer é aumentar as taxas.
Dilma colocou, em 2012, como meta de governo baixar os juros e as tarifas dos bancos. Naquela época, os juros básicos, definidos pelo Comitê de Política Monetária do BC, estavam em trajetória de queda – de outubro de 2012 a abril de 2013, vigorou a menor Selic da história: 7,25% ao ano. "A cruzada contra os juros altos não deu certo. O governo agora tem outras prioridades. Uma delas é justamente ter boa relação com o mercado financeiro", afirma Santacreu.
A presidente não conseguiu cumprir a promessa de baixar o custo do crédito no País. Além da alta da Selic, o governo dobrou o IOF cobrado para o crédito às famílias, de 1,5% para 3%, na semana passada.
Média
O levantamento do Estado, elaborado com dados do BC, com base em uma média das taxas cobradas pelos bancos pelo volume emprestado em cinco dias úteis, mostra que BB e Caixa mais que dobraram as taxas cobradas no cheque especial de dezembro de 2012 até a primeira semana deste ano (ver quadro acima). Na prática, isso significa que, no uso de R$ 1 mil no cheque especial por 20 dias, o BB cobra R$ 22,87 mais de juros, seguido da Caixa (R$ 19,40). No Itaú, a elevação foi de R$ 11,27 e no Bradesco, R$ 6,80. A simulação foi feita por Miguel José Ribeiro de Oliveira, da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade.
Produtos
Em outros produtos, as taxas dos bancos públicos também subiram acima das dos privados, mas, de forma geral, os menores juros ainda são os da Caixa, seguidos pelos cobrados pelo BB. . Como exemplo, a Caixa foi obrigada, inclusive pelas condições do mercado, a aumentar os juros do crédito imobiliário, que ficaram congelados por mais de um ano.
O BB diz que a estratégia de liderar o movimento de baixa dos juros em 2012 deu certo, mas que foi preciso se readequar diante de um cenário distinto com maior custo de captação. A Caixa foi procurada pela reportagem, mas não quis se pronunciar.
Fonte: O Estado de S.Paulo /porMaurilio Rodrigues Alves