Organizado voluntariamente pelo Coletivo de Comunicação Alternativa, grupo que se constituiu com o objetivo de propor novas discussões na cidade, o evento teve a promoção do Sindicato dos Bancários de Caxias do Sul e Região e apoio do Sinpro/Caxias, Sindiserv e Sintep/Serra.

Os debatedores Juremir Machado e Ademir Wiederkehr discorreram sobre o tema e depois responderam perguntas e ouviram observações dos mais de 200 participantes. Juremir Machado é professor da PUCRS, escritor, colunista do Correio do Povo e apresentador do programa Esfera Pública, na Rádio Guaíba. Ademir Wiederkehr é integrante da direção do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) e atual secretário de comunicação da CUT/RS. A mediação foi do sindicalista e professor Marcelo Caon, doutor em História. Na abertura do evento, Caon leu uma carta de Moisés Mendes que também era debatedor, mas não pôde comparecer ao evento por motivo de saúde. Na mensagem, Moisés afirmou que “A crise política, com seus desdobramentos econômicos, é resultado também da participação dos meios de comunicação no acirramento de confrontos, na disseminação de notícias ruins, na criminalização de apenas um dos lados da política e inclusive na propagação de ódios.”

Em seguida, Juremir Machado iniciou, polemizando sobre o momento que o Brasil atravessa: “Estamos vivendo um golpe, até os golpistas sabem que é um golpe.” Completou afirmando que o golpe é da mídia, pois a imprensa não aceita perder a verba publicitária oficial. Então, narrou fatos históricos mostrando que a imprensa do Brasil apoiou todos os golpes a partir da Proclamação da República. “Não há golpe sem a mídia”, justificou, pois é ela que convence a classe média a aceitar um golpe. E lembrou que por três vezes na história da política brasileira a corrupção foi usada para derrubar governos de centro-esquerda. “A direita, como sabemos, nunca roubou! Só quem rouba é a esquerda”, ironizou o jornalista.

Juremir enfatizou que a mídia é muito ampla e não é um monobloco, sendo possível fazer contrapontos. Citou o programa dele na rádio Guaíba e outros espaços na dita “grande mídia” que permitem opiniões diferentes, sem censura ou cerceamento político e promovem discussões mais arejadas. “Não podemos desistir da mídia”, vaticinou. “Precisamos de uma reeducação para a mídia e precisamos reinventar a nossa imprensa”, destacou Juremir e lembrou que, com o advento e popularização da internet e das redes sociais, todos os que têm acesso a ela podem produzir conteúdos e, portanto, são donos do seu próprio veículo de comunicação. “Espero que as redes sociais criem um novo espaço de mídia, mas o que eu tenho visto é que esse tem sido o lugar da mentira, do insulto e do absurdo”, lamentou. Para ele, todas as mentiras contadas na Internet são assumidas como verdade, ainda que não haja provas.

O palestrante levou a plateia ao riso em vários momentos. Ele lembrou que o dia 7 de julho foi especial no Brasil, o dia em que Eduardo Cunha chorou lágrimas de crocodilo.

Juremir fez várias críticas no campo da política e do governo. Disse que a elite não quer dividir o bolo e por isso critica o Programa Bolsa Família. Que Michel Temer primeiro garantiu a aposentadoria dele e agora quer mexer na aposentadoria do povo brasileiro. Que o Brasil está vivendo um momento entreguista. Que o PMDB, que defendeu a democracia durante o golpe de 64, agora se mostra “golpista de cabo a rabo”. Afirmou que Lula pode ser reeleito em 2018, se não caçarem os direitos políticos dele, mas que Lula e Dilma deixaram muita coisa incompleta, por exemplo, não fizeram a reforma agrária como deveriam ter feito. E que a imprensa exagera as denúncias de corrupção relativas ao PT, mas que há corrupção também no PT.

Juremir, que é professor em cursos de jornalismo, revelou esperança no futuro: “Felizmente as pessoas continuam se apaixonando pelo Jornalismo. Certamente a imprensa do Brasil vai mudar e evoluir, como aconteceu em outros países”.
Na continuidade, o debatedor Ademir Wiederkehr afirmou que é possível fazer diferente e citou várias iniciativas de comunicação alternativa, como Brasil 247, Carta Maior, Conversa Afiada, Viomundo e Brasil de Fato. Ele observou que no estado temos o Sul 21, veículo de comunicação baseado nas mídias colaborativas da Internet, que já é o terceiro site mais acessado do RS. “Precisamos fortalecer essa mídia alternativa”, disse, e explicou que isso depende também da melhor distribuição das verbas públicas de comunicação: “A verba para blogs alternativos era de 0,6% no país e o Temer acaba de cortar”, denunciou.

Ele destacou que as redes sociais também são lugares de disputa de opiniões e que as notícias que aparecem no Google são iguais em muitos sites, com os mesmos entrevistados, portanto falta diversidade.

“Estamos em um período de muito bloqueio da informação. Está em curso um processo internacional de ataque aos direitos dos trabalhadores”, denunciou, citando as ações da CUT pela resistência a essa situação.

Ademir elogiou a iniciativa do evento e concluiu: “É importante levar esse debate para os ambientes de cada um, é necessário acordar muita gente.”

Lisiane Zago – MTB 12375
Marlei Ferreira – MTB 8542
Rose Brogliato – MTB 11004
Fotos: Ricardo Barp
 


Compartilhe este conteúdo: