Instituições financeiras veem seus custos reduzirem e os de seus funcionários que cumprem jornada home office aumentarem, mesmo assim, propõem corte nos rendimentos dos bancários

 

Uma pesquisa realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostra que o trabalho home office gerou aumento das despesas da categoria bancária com contas de água, gás, internet, energia e supermercado. Em contrapartida, os bancos tiveram redução de custos. Mas, mesmo vendo seus custos reduzirem e as despesas de seus funcionários aumentarem, os bancos – que pretendem tornar o trabalho home office permanente – querem impor perdas de rendimentos e de direitos aos seus funcionários e não reajustar salários e os demais direitos econômicos.

É assim que se desenham, pelos banqueiros, os resultados da Campanha Nacional dos Bancários de 2020. A categoria realizou nesta sexta-feira (21), a sétima reunião de negociações com a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), que negocia pelos bancos com o Comando Nacional dos Bancários.

Aumento de despesas dos bancários

A pesquisa do Dieese, realizada entre na segunda quinzena de julho, mostra que a conta de energia aumentou para 78,6% dos bancários que trabalham em home office, sendo que 31% deles viram essa despesa aumentar muito (veja gráfico). Outro dado que chama a atenção é o aumento dos gastos com supermercado. Houve aumento de despesas para 72% desse público, sendo que para 34,9% aumentou muito. Mesmo assim, os bancos querem reduzir os valores mensais da cesta-alimentação paga aos bancários e deixar de pagar a 13ª cesta. Também querem reduzir os valores pagos a título de Participação nos Lucros e/ou Resultados (PLR) e o percentual pago como gratificação de função.

 

Economia dos bancos

Em contrapartida, segundo dados divulgados nos balanços semestrais dos quatro maiores bancos do país, as instituições financeiras tiveram redução dos custos (veja gráfico). O Bradesco, por exemplo, conseguiu economizar R$ 32 milhões com contas de água, luz e gás no primeiro semestre de 2020, na comparação com o mesmo período de 2019, uma redução de 13,7%. No Banco do Brasil, a economia com estes itens foi de R$ 22 milhões, uma variação de -8,2%. Os bancos conseguiram economizar ainda com vigilância e segurança e, principalmente, com viagens, com uma economia de mais de 43% (R$ 163 milhões).

 

Proposta indecente

Os dados não deixam dúvidas! Os bancários estão tendo custos maiores, os bancos menores. Mas, nas reuniões de negociações realizadas nesta semana entre a Fenaban e o Comando Nacional dos Bancários, os bancos apresentaram propostas que podem levar mais perdas aos trabalhadores. As reduções de rendimentos podem chegar a 7,9%, sem contar a inflação, uma vez que os bancos não querem reajustar os salários e demais verbas.

Sem contar a inflação, consideramos o salário médio recebido por um bancário que cumpre a jornada de 40h semanais, as perdas chegariam a R$ 13.282,57 em sua remuneração anual (-4.010,30 da gratificação; -636,17 da 13ª cesta; -8.636,10 da PLR, considerando as estimativas de lucro para 2020).

Na reunião desta sexta-feira, os bancos propuseram reajuste ZERO, o que levaria a mais uma perda de, no mínimo, de 2,65% nos salários (até o fechamento deste texto a reunião não havia sido encerrada).

Além do fim da 13ª cesta alimentação, os bancos querem reduzir a gratificação de função de 55% para 50% do salário.

PLR

Com a forçada queda do lucro líquido dos bancos, a PLR dos bancários já teria uma redução de até 25%. Mas, com a proposta da Fenaban, redução pode chegar a 48%.

Os bancos querem reduzir de 7,2% para 7% o limite mínimo de distribuição do lucro líquido no primeiro semestre em exercício. Além disso, a antecipação atual, que é de 54% do salário, mais fixo de R$ 1,474,38, com limite individual de R$ 7.909,30, pela proposta da Fenaban, fica em 43,2% do salário, mais fixo de R$ 1.179,50, com limite individual de R$ 6.327,44.

A regra básica da PLR anual é atualmente de 90% do salário mais fixo de R$ 2.457,29, com limite individual de R$ 13.182,18. Pela proposta da Fenaban, cairia para 72% do salário mais fixo de R$ 1.965,83, com limite individual de R$ 10.545,74.

Outras perdas também foram apresentadas na reunião. O percentual da parcela adicional, por exemplo, retornaria ao patamar de 2012. Os valores fixos teriam redução de 20%, retornando ao patamar entre 2014 e 2015. O acelerador da regra básica retornaria ao patamar de 2007.

A Fenaban também faz ajustes na redação na base de cálculo para o salário base acrescido das verbas fixas de natureza salarial. A mudança, no entanto, afeta bancários de vários estados onde os bancos pagam gratificação semestral. Nesses estados, as perdas chegariam perto de 50%.

 

Fonte: Contraf-CUT

 


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