Federação enviou carta ao presidente do banco sobre as responsabilidades civis envolvidas
A Fetrafi-RS notificou a diretoria do Banrisul, em carta endereçada ao presidente do banco, Claudio Coutinho (leia abaixo), a respeito dos perigos de flexibilizar atendimento, promover aglomerações dentro das agências e da responsabilidade civil do banco e de gestores que estão mandando as pessoas saírem do home office e irem direto para o trabalho ou que tomaram o caminho do assédio moral e da pressão.
A situação preocupante foi denunciada pelo Comando Nacional dos Banrisulenses nesta terça-feira, 10 de novembro, o Comando Nacional dos Banrisulenses em reunião com representantes do Banrisul. Os banrisulenses apresentaram dados preocupantes sobre os efeitos da liberação de colegas para o trabalho presencial.
Uma agência do Interior do Estado teve 23 colegas testados e virou o case de fracasso pós-liberação do Banrisul. No meio da reunião, chegou informação de que sete dos testados já apresentavam contaminação pelo novo coronavírus nesta agência, configurando um surto de Covid-19. E o pior: gestores estariam pressionando para que a agência permanecesse aberta. Há, também, muitos relatos de colegas ameaçados de serem descadastrados da função de caixa caso não “deem um jeito” de voltar do afastamento por serem grupo de risco.
O Banrisul também parece ter pouca sensibilidade com as mulheres e mães. Três funcionárias de duas cidades do Interior relataram aos dirigentes terem sofrido pressão para deixar o home office e ir direto para a agência. As três têm filhos em idade escolar e precisam ficar entregando seus resultados de casa, pois as escolinhas maternais e as escolas públicas e privadas estão fechadas na região.
A diretora de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora da Fetrafi-RS, Denise Falkenberg Corrêa, denunciou na reunião procedimentos de alguns gestores que superam a falta de respeito. “Alguns gestores aconselham às pessoas a procurar um médico e dizerem que estão doentes. Isso é completamente antiético. A pessoa não pode dizer que está doente quando não está. Ela está trabalhando. Não se trata só do direito da mulher, mas da criança também”, explicou a diretora.
Leia aqui a íntegra da notificação.
O documento faz considerações a respeito da ausência de vacina para conter a doença, do risco assumido pelo Banrisul ao flexibilizar protocolos sanitários como a facilitação de aglomerações nas agências de todo o Estado, a ausência de um plano nacional por parte do Governo Federal para conter a disseminação do novo coronavírus e o crescimento do número de casos no estado, prenunciando uma segunda onda de contaminação como ocorre na Europa.
Para o diretor da Fetrafi-RS Sergio Hoff, além de os dirigentes insistirem na questão do cumprimento dos acordos, vão permanecer fortalecendo a luta por terem acesso às Instruções Administrativas (IA) e Normativas (IN), o que é hoje inviabilizado pelo banco.
“O banco não cumpre os acordos porque lança as IAs para que os gestores interpretem do jeito que quiserem. Ficou claro para nós a dificuldade de delimitar o papel das superintendências comerciais. Isso é o normal que tem acontecido. Por isso elaboramos uma notificação para que vocês revejam esta postura. Não são só 10 mil funcionários correndo risco de adoecer em condições sanitárias e de saúde de alto risco. São 10 mil famílias”, alertou Sergio.
A notificação alerta para o artigo 7º da Constituição Federal sobre as condições de trabalho e a obrigatoriedade de reduzir os riscos com medidas protetivas à saúde, higiene e segurança. O documento ainda alerta para o que dizem os artigos 186 e 927 do Código Civil, que tratam, respectivamente, de negligência como causa de danos e reparação de prejuízos pessoais.
“Portas escancaradas”
O presidente do SindBancários, Luciano Fetzner, visitou agências do Banrisul no Centro de Porto Alegre, antes de a reunião começar às 13h30 da terça-feira. Todas, além de lotadas, também acumulavam com filas enormes na rua. Ouviu relatos de que as agências em dias de maior movimento como entre os dias 25 do mês anterior e o dia 10, chegam a ter gente esperando atendimento até as 18h. O clima é de liberação geral e de uma normalidade irresponsável sob a ideia de que todos têm que ser atendidos, o que não se enquadra no espírito das últimas IA’s divulgadas pelo banco.
“O feedback que temos é que voltaram a aparecer o assédio, ameaças e gritos de gestores com gerentes cobrando abertura das agências e realização de negócios. Vocês estavam na mesa na semana passada anunciando que o banco começaria a mudar para a flexibilização e já tinha agência com as portas escancaradas. Temos relatos de superintendentes assediando gestores. O que parece, é que o banco perdeu as rédeas das superintendências”, avaliou Luciano.
Na mesma linha, a diretora da Fetrafi-RS Ana Maria Betim Furquim, visitou agências e fez uma comparação no tempo. A conclusão dela, desde que os protocolos de saúde e sanitização e higienização, assim como o horário restrito, foram implantados, é que as agências do Banrisul nunca deixaram de ter filas. Agora, depois da flexibilização, só piorou.
“Quando discutíamos o rodízio e o agendamento anterior, também tinha filas. Porque em determinados dias do mês sempre tem filas. Os clientes do Banrisul, como banco público que é, costumam ter dificuldades em ter acesso à internet. O agendamento aumentou agora e as filas estão enormes. Ontem [segunda, 9/11], se tu olhasse as filas da Caixa e do Banrisul, elas estavam do mesmo tamanho”, descreveu a dirigente.
Tour pelas agências
O também diretor da Fetrafi-RS Fábio Alves, fez um convite ao banco. Que os diretores e superintendentes fossem visitar as agências bancárias nos dias de maior movimento e aglomeração. “Acho que existe um certo distanciamento. Alguns dos superintendentes desconfio que nunca entrou em agência. Uma comitiva da diretoria tinha que dar uma caminhada nas agências e dar uma olhada. Fazer um tour. Tem que conhecer a situação real, anotar as dificuldades. A curva de contaminação está ascendente. É um momento preocupante. Estamos vivendo o mesmo dilema da sociedade: economia e saúde. O pessoal do banco vai ter que ser responsabilizado. Esse ato de liberar vai ter consequências. Estamos na defesa da vida. Este parâmetro é muito forte para nós”, asseverou o dirigente a respeito da notificação da Fetrafi-RS, enviada ao presidente do Banrisul.
Palavras do banco
Os representantes do banco pediram paciência aos dirigentes sobre a questão dos acessos às IAs e INs publicadas pelo banco internamente.
O banco reiterou que não flexibilizou nenhum tipo de protocolo de combate ao novo coronavírus, que está respeitando as bandeiras. Os representantes da diretoria do Banrisul disseram concordar que a curva de contaminações está em alta e que têm punido superintendes e gestores que não cumprem orientações.
Outra questão apontada pelo banco diz respeito a uma Instrução Normativa (IN) que lançaria na semana passada reforçando os cuidados e os protocolos de retorno de quem está em home office para o trabalho presencial. A IN não foi lançada. De qualquer modo, o banco esclareceu que não há nenhum tipo de orientação para retorno ao trabalho sem passar pelos procedimentos de testagem e avaliação médica.
O banco também reconheceu que há gestores e superintendentes “mais realistas que o rei”. Enfatizou que a direção não quer que o Banrisul se torne um vetor de contaminação da Covid-19 e que possa haver uma avaliação errada dos riscos envolvidos de abrir agências neste momento.
Sobre teletrabalho e agenda de reuniões
Os integrantes do Comando Nacional dos Banrisulenses estão cientes da importância e do interesse dos colegas no teletrabalho. Na reunião desta terça, inclusive, os representantes do Banrisul apresentaram alguns pontos a serem esclarecidos a respeito das premissas para a construção de acordo sobre teletrabalho da reunião de 28 de outubro.
É importante entender, entretanto, que o acordo do teletrabalho pode ser construído no longo prazo, uma vez que, a princípio, deve ser uma política permanente no banco. Isso não significa que seja um tema menor. O que se quer dizer é que, diante da pandemia e da flexibilização da aglomeração nas agências pelo banco, o cuidado com a vida e a saúde dos colegas passou a ser prioridade.
Os dirigentes então fecharam uma agenda com os representantes do banco em que preveem um maio número de reuniões de modo que possam acelerar a finalização do Acordo de Teletrabalho para apresentar à decisão dos colegas.
Agenda de reuniões
Sexta-feira | 13/11 | 11h: Ponto eletrônico e teletrabalho
Terça-feira | 17/11 | 13h30: Teletrabalho e pautas que necessitem de reposta rápida do banco como a questão da Civid-19 nas agências.
Quarta-feira | 18/11 | 11h: Reunião específica sobre Covid-19.
Quinta-feira | 19/11 | 11h: Ponto Eletrônico
Participaram de reunião também o presidente do Sintrafi-SC, de Florianópolis, Cleberson Pacheco Eichholz, o diretor do SEEB São Sebastião do Caí, Gerson Kunrath, e o assessor jurídico da Fetrafi-RS, Milton Fagundes.
Pelo banco, estiveram na reunião o negociador Fernando Perez, o diretor de RH, Gaspar Saikoski, e o assessor jurídico Raí Mello.
Fonte: Fetrafi-RS com informações da Imprensa SindBancários