Fórum que acontece na manhã deste sábado (27) discute atuação errática da atual diretoria ao desmontar Estratégia de Saúde da Família

 

Dores e fraqueza muscular, agravamento de doenças preexistentes, perda duradoura de paladar e olfato, fibrose nos pulmões e rins, além de distúrbios do sono e falta de ar. Essas são algumas das sequelas de pacientes que sobreviveram à Covid-19 e que precisam ser tratadas pelos sistemas de saúde, incluindo, obviamente, os de saúde suplementar, como a Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil (Cassi).

O balanço da atuação da Cassi e sua responsabilidade para com os pacientes que ficaram com sequelas da Covid-19 será o tema da terceira e última mesa do 2º Encontro Nacional de Saúde dos Funcionários do BB, que acontece neste sábado (27), das 9h às 13h, transmitido pelos canais do Youtube e Facebook da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT). O painel contará com a participação de Claudio Said, ex-gerente executivo da Cassi, e de William Mendes, ex-diretor eleito de Saúde e Rede de Atendimento da Cassi. Eles conversaram com a comunicação da Contraf-CUT sobre o tema.

Principais trechos da entrevista

Contraf-CUT: Qual o balanço os senhores fazem dos erros e acertos da Cassi durante a pandemia?

Claudio Said: A Cassi demorou a entender a amplitude dos impactos trazidos pela pandemia. Demorou a reagir e, ao fazê-lo, limitou-se a acionar o serviço de telemedicina, seguindo a necessidade do momento, pois no auge do distanciamento social essa era a única forma de atender. A telemedicina é uma ferramenta de acesso aos serviços, mas sua eficácia para a gestão de saúde só acontecerá se ela estiver integrada às estratégias de atenção da Cassi, em particular à Estratégia de Saúde da Família. Em resumo, acertou ao disponibilizar o serviço, mas ele não está integrado aos programas de promoção da saúde e prevenção de doenças, o que é um erro estratégico gigantesco. Há tempo para correções, mas precisa ser agora!

William Mendes: Uma das vantagens que a Cassi teve no enfrentamento à pandemia é o arcabouço de informações dos associados, que foi construído ao longo de décadas, graças ao modelo de saúde definido em 1996 e que implementou o modelo de saúde preventivo, onde você prioriza a prevenção de acidentes, o incentivo à promoção da saúde, monitoramento de pessoas com doenças crônicas. Esse modelo também incluía o programa Estratégia de Saúde da Família.

O balanço negativo é que a atual gestão vem, desde antes da pandemia, desmontando esse sistema. Nós tínhamos um modelo próprio de equipes nucleares de família, espalhadas pelas capitais e mais algumas regiões metropolitanas e interioranas. E essa estrutura era barata. A Cassi tem a menor despesa administrativa do mercado de saúde, fazendo saúde, o que não é qualquer coisa. As despesas assistenciais da Cassi eram cerca de 6% da sua receita, com uma equipe de quase 2 mil profissionais de saúde, envolvendo equipes de família, nutricionistas, enfermeiros, técnicos de enfermagem, diversas áreas de atenção primária e da saúde, e isso tudo está sendo desfeito pela direção atual da Cassi.

Ainda dentro do desmonte do sistema de monitoramento das pessoas com doenças crônicas, antes, essa população recebia periodicamente, em casa, todos os medicamentos que precisavam para dar continuidade a seus tratamentos. Quando entra a pandemia e tivemos, em todo o país, uma crise séria de medicamentos de uso contínuo, essas pessoas foram seriamente afetadas.

Outro ponto é a telemedicina. Essa é uma ferramenta implementada em todo o mundo. Na pandemia houve, é claro que por conta da necessidade de distanciamento, um aumento do uso dessa ferramenta. Então, claro que é positivo a Cassi ter a telemedicina. Acontece que a atual diretoria fez a implantação desse serviço em detrimento da sua própria estrutura. Ela desmontou a estrutura que tinha antes, com um corpo próprio de profissionais, para contratar uma empresa de telemedicina de fora, que não tem os dados dos participantes como nós temos na Cassi.

Contraf-CUT: Como a Cassi tem se posicionado sobre a oferta de atendimento para o grupo de pacientes que ficaram com sequelas da Covid-19?

Claudio Said: Lamentavelmente, não vejo um posicionamento efetivo para lidar com essa realidade. A essa altura da pandemia, o histórico de informações já é suficiente para mapear as sequelas mais recorrentes e desenvolver programas específicos de prevenção e tratamento. Muito pouco está sendo feito para cuidar do ser humano atingido pela doença. É urgente que a Cassi mobilize suas equipes técnicas e construa alternativas de cuidados para a população atingida. Disponibilizar acesso à telemedicina não basta! Acesso aos serviços é premissa de um sistema de saúde, não é a sua finalidade.

William Mendes: Segundo levantamento da Contraf-CUT, cerca de 13 mil assistidos hoje não usam mais o sistema de medicamentos da Cassi, o chamado PAF – programa de assistência farmacêutica. Isso prejudicou essas milhares de pessoas. Elas estão sendo assistidas hoje? Não sabemos, porque a direção atual desmontou o sistema de assistência farmacêutica, fundamental para as pessoas com doenças crônicas. Como a Cassi vai atender agora os novos crônicos de Covid?

Todo esse movimento que entregou a telemedicina para uma empresa terceirizada, o fim do monitoramento periódico dos pacientes crônicos e da Estratégia de Saúde da Família está fazendo a Cassi perder o essencial necessário para cuidar dos pacientes crônicos, tanto os que já eram crônicos antes da Covid-19, quanto os novos crônicos da Covid-19, uma geração que, talvez, irá demandar atenção do sistema de saúde para o resto de suas vidas.

Contraf-CUT: Como avaliam a atuação da direção da Cassi para garantir o atendimento adequado dos trabalhadores que precisaram usar o sistema de saúde?

Claudio Said: A palavra mais ajustada a essa pergunta é omissão. Eu não gostaria de estar falando isso, mas alguém viu alguma ação estratégica e diferenciada das diretorias eleitas para garantir o atendimento? Só a telemedicina, a qual não resolve os casos mais graves. Só não tivemos maiores problemas com a ocupação de leitos hospitalares porque as Unidades Estaduais da Cassi agiram por conta própria na gestão local da oferta de leitos. Mas, se tivesse ocorrido um esgotamento severo da oferta de leitos de UTI, o sistema Cassi não suportaria a demanda, apesar dos esforços regionais, porque nenhuma estratégia nacional foi organizada para o período crítico da pandemia. Aconteceu na Cassi o que aconteceu no país, onde os estados e municípios tiveram que se virar para compensar a falta de ação do poder central. Além disso, todas as ações que o Banco do Brasil adotou durante a pandemia foram acatadas sem a contradita dos representantes dos trabalhadores, fossem elas favoráveis ou não à categoria. De que lado eles estão?

William Mendes: O lado positivo é que tivemos os sindicatos cobrando dos bancos que as pessoas trabalhassem em home-office, reduzindo a exposição delas, mesmo quando o sistema já estava permitindo o retorno ao trabalho presencial. Também houve a cobrança no atendimento adequado dos planos de saúde. Então, eu acho que o comportamento dos representantes dos trabalhadores foi o comportamento de acompanhar, de ver o que era possível fazer, mesmo em um momento duro para se fazer a defesa de direitos dos trabalhadores, por causa das condições políticas atuais.

 

Fonte: Contraf-CUT


Compartilhe este conteúdo: