Os funcionários e as funcionárias do Banrisul aprovaram por aclamação a minuta da Pauta de Reivindicações da campanha salarial deste ano. O documento foi discutido no 30º Encontro Nacional dos(as) Banrisulenses, que ocorreu neste sábado, 2 de julho, pelo Zoom.

O movimento sindical negociará a renovação do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) com reajuste salarial e gratificações, aumento dos vales refeição e alimentação, e a valorização dos Operadores de Negócios (ONs), além de convocação imediata de concurso público para a função de Escriturário, entre outras pautas. Parte destas reivindicações já está contemplada no vigente ACT, cuja renovação e aperfeiçoamento são esperados. Este aperfeiçoamento será atingido com os valores reajustados pela variação do INPC do período revisado e do aumento, segundo o postulado pela categoria na campanha nacional unificada.

Uma das nossas prioridades na mesa de negociação será a reivindicação na gratificação substancial dos ONs de R$ 1.335 mais o INPC do período. “Os colegas ONs vêm se aproximando mais do sindicato e não vamos abandoná-los. Temos a responsabilidade de representar esses colegas e buscar a valorização deles”, completou a diretora de Formação da Fetrafi-RS e membro do Comando, Ana Maria Betim Furquim, que coordenou a mesa de abertura do Encontro.

Para o também diretor da Fetrafi-RS e banrisulense Sergio Hoff, é preciso conscientizar a categoria da importância de eleger executivo e legislativo conectados com as pautas dos trabalhadores e das trabalhadoras. “Acima de tudo vamos lutar em defesa do nosso banco público, que a gente precisa manter. Mas sabemos que só com o nosso voto é que vamos conseguir garantir nossos direitos”, pontuou.

 

Conjuntura política

Além da aprovação da minuta, o Encontro foi importante para posicionar a tarefa dos Banriulenses para além da caminhada salarial. “Estamos fazendo esta campanha em um momento muito difícil, mas também é um momento de esperança. Ao contrário do ano passado, este ano nós temos possibilidades. Nós podemos sonhar, nós temos a esperança de que podemos mudar esse país novamente”, pontuou a diretora de Saúde do(a) Trabalhador(a) da Fetrafi-RS e membro do Comando Nacional dos Banrisulenses, Raquel Gil.

O presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci, apontou que é preciso melhorar o nível de consciência dos trabalhadores e das trabalhadoras, porque a campanha deste ano “é uma luta da classe, da classe formalizada e da classe na informalidade”. “Mas temos que ganhar as pessoas sem ofensas, com muita tolerância e muita agregação. Vamos fazer uma campanha bonita, que agregue os diferentes”, aconselhou.

O contexto mundial também deve ser considerado nesta campanha, lembrou o presidente do SindBancários, Luciano Fetzner. “Ao mesmo tempo que estamos na defensiva por conta do contexto social e político do país e do mundo, e, de certa forma, até de uma guerra que está acontecendo nesse momento, nós também temos que ficar nos atualizando de vários temas ao mesmo tempo, militando e lutando em todas as esferas da vida social, seja na vida pessoal, seja na vida coletiva, na sociedade, analisou.

Fetzner continuou a análise do contexto. “Há dois anos, tivemos uma campanha salarial totalmente diferente, virtual, na qual conseguimos renovar nossos acordos, avançar em pautas, constituir mesas permanentes de debate em todos os bancos, fortalecer o tema da saúde, da segurança e, assim mesmo, ainda estamos na defensiva. Estamos defendendo os bancos públicos e as empresas públicas como um todo.”

A defesa do Banrisul público também foi destacada pelo presidente do Sindicato dos Bancários de Florianópolis (SC) e membro do Comando Nacional dos Banrisulenses, Cleberson Pacheco Eichholz. “A campanha nas redes tem sido importante na luta contra a privatização do banco. No entanto, precisamos gradativamente retomar as ruas com todos os cuidados e respeito aos protocolos de segurança, pois a PEC da retirada do plebiscito só prosperou porque além de um parlamento desfavorável ela foi a votação no auge da Pandemia, inviabilizando mobilizações de rua.”

Cleberson exaltou ainda a importância dos colegas participarem das atividades propostas pelos Sindicatos e pela Federação. “Estamos engajados nas redes sociais. A campanha Eu Sou Banrisul está muito forte. Tem um grande número de pessoas participando. Mas ainda há muito espaço para ampliar, cada colega pode entrar nessas redes sociais da campanha e compartilhar as postagens com seus amigos e familiares”, convidou.

O secretário de Saúde da Contraf-CUT, Mauro Salles, destacou, entre outros, o tema da melhoria das condições de trabalho. “O adoecimento dos colegas, o sofrimento nas agências está muito grande, especialmente o psíquico. A concorrência do sistema, as reestruturações, estão apertando e isso aumenta a pressão sobre os funcionários dos bancos, o assédio moral também. É um verdadeiro mecanismo adoecedor. Temos que dar visibilidade a esse problema”, enfatizou.

 

Destaques do Banrisul

No primeiro painel da manhã, o técnico do Dieese Ricardo Franzoi apresentou o balanço do Banrisul e o contexto das tendências na categoria, além de falar sobre a importância dos bancos públicos no financiamento do Estado.

Franzoi apontou que enquanto os bancos privados vão gerar lucros para acionistas privados, os bancos públicos injetam recursos na conta do estado, o que garante investimentos a longo prazo em benefício da população, como saúde, educação, segurança. Os bancos privados, no entanto, “vão direcionar o investimento para os projetos que gerem maior taxa de retorno a curto prazo”, ou seja, mais lucro o quanto antes.

O técnico do Dieese mostrou também como a categoria bancária diminuiu 39,5% desde 1990, enquanto crescem bancos digitais e fintechs, e portanto, a precarização do trabalho com a contratação de trabalhadores autônomos que não têm os mesmos direitos dos(as) bancários(as).

 

Veja a apresentação aqui 

 

Informes da Campanha Nacional

Membro do Comando Nacional dos Bancários, o diretor de Comunicação da Fetrafi-RS, Juberlei Bacelo, passou os informes da Campanha Nacional unificada. “Nós já estamos no processo de negociação com a Fenaban, tivemos na semana passada uma rodada para debater o tema emprego e terceirização. O trabalhador autônomo nada mais é do que um bancário ou Uber bancário que não tem direito nenhum, que não tem 13º, não tem férias, não tem nada de seguridade, ganha se produzir”, explicou.

A queda no poder de compra também permeia a campanha nacional, segundo Bacelo. “O objetivo é recuperar nosso poder de compra, porque vamos pedir a reposição da inflação do último período. Vamos manter a nossa unidade, os nossos direitos, debater as condições de trabalho e vamos depender muito da participação massiva da nossa categoria”, conclamou.

 

Regime de Recuperação Fiscal

O auditor do Tribunal de Contas do Estado, Josué Martins, apresentou em detalhes o Regime de Recuperação Fiscal, aprovado no governo Leite, e como o acordo com a União acaba com a autonomia financeira e administrativa do estado do Rio Grande do Sul pelos próximos nove anos.

Martins explicou que o RRF alinha a política econômica dos estados endividados, como o RS, à política econômica da União, desses governos que defendem o enxugamento do Estado. Segundo o auditor, o Regime tornou legal a quebra do pacto federativo e “acabou a autonomia do RS”.

O RRF, disse, determina que os pagamentos anuais da dívida cresçam ano após ano, ao mesmo tempo em que limita aumento de gastos e investimentos do governo, comprometendo o desenvolvimento do estado. Neste período o governo não pode aumentar gastos com políticas públicas ou pessoal e está proibido, por exemplo, de realizar concurso público.

Entre as condicionantes que a União exige do estado, está também a alienação total ou parcial de participação societária do estado em empresas públicas ou de economia mista, com previsão até de liquidação ou extinção dessas empresas. Portanto, Banrisul e a Corsan estão fortemente ameaçados neste período.

 

Veja a apresentação aqui

Conjuntura estadual

A manutenção do Banrisul público, inclusive, foi destacada pelo ex-ministro do Trabalho e ex-vice-governador do estado, Miguel Rossetto, último convidado a falar no Encontro. Foi no governo dele e de Olívio Dutra, então governador, que os banrisulenses conseguiram reverter a privatização do Banrisul encaminhada pelo governo Britto.

Hoje, mais uma vez sob ameaça, é preciso eleger um governador e um parlamento alinhados com a defesa do Banco, como reforçou Rossetto. “O povo gaúcho tem um respeito enorme pelo Banrisul. Precisamos de mais Banrisul, de mais presença nos municípios, de uma economia que quer mais para o futuro do estado do Rio Grande do Sul”, enfatizou.

Rossetto lembrou que o estatuto popular para discussão da venda de estatais e outros avanços do estado nos governos de esquerda foram importantes para a vida dos trabalhadores, mas estão se perdendo. “Todas as vitórias que nós construímos no estado são imensamente disputadas e, hoje, as categorias de vanguarda tem essa capacidade enorme de mobilização em relação a uma base permanentemente mal-informada por uma mídia que a desorienta”, alertou.

 

Campanha nas redes

A equipe da Verdeperto Comunicação apresentou a campanha “Eu Sou Banrisul”, que visa a valorização do Banrisul e a conscientização da sociedade sobre a importância de manter o Banco público. O diretor de criação da agência contratada pela Fetrafi-RS e pelo SindBancários Porto Alegre e Região, Luiz Felipe Nelsis, explicou o conceito e a nova fase da campanha iniciada em 2021.

“O que as peças mostram é que a venda do patrimônio público do estado é brutal e irreversível. Mostram a traição ao estado, a destruição dos símbolos gaúchos, porque é isso, rigorosamente, que está acontecendo”, explicou Nelsis. Na atual fase, a campanha denuncia as consequências nefastas da privatização de outras empresas públicas e cobra o compromisso dos candidatos ao governo do estado e à Assembleia Legislativa com a preservação do Banrisul.

 

Fundação Banrisul

Antes do fim do Encontro, a diretora da Fetrafi-RS Denise Falkenberg Corrêa informou a respeito das mudanças anunciadas pela Fundação Banrisul para a participação dos pensionistas na eleição paritária da sua diretoria executiva. “De agora em diante quem quer se candidatar a diretor da Fundação tem que passar por uma sabatina. Isso é inaceitável”, afirmou.

O ex-diretor da Fetrafi-RS e banrisulense aposentado, José Carlos Rocha, também protestou contra as alterações nas regras eleitorais da Fundação. “Nós elegemos apenas dois representantes e agora querem nos tirar esses cargos, principalmente do diretor de Previdência, que é fundamental pra nós”, declarou. Rocha divulgou um texto para ser enviado à Fundação por todos os colegas solicitando a revisão das regras.

 

Fonte: Fetrai-RS


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